Gestão da Educação Superior e Pandemia

Fonte da foto: arquivo pessoal.

Por Maria Clara Kaschny Schneider

As instituições de Ensino Superior desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de um país e, mais do que isso, provocam transformação e melhoria, não só por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, como também pelos debates e reflexões acerca da sociedade. Então seu papel vai muito além da formação de pessoas. Estamos vivendo um período complexo, difícil e inusitado com a Pandemia da Covid-19 e, as instituições são chamadas a contribuir com esse momento desafiador, não somente com Pesquisa e Ciência, que são imprescindíveis para que superemos essa fase, mas também porque nosso compromisso com a sociedade se dá em todas as áreas do conhecimento humano para analisar, refletir, repensar e propor! Desde a suspensão das aulas presenciais temos enfrentado, dia a dia, questões cruciais que nos provocam a encontrar novas formas de atuar em todas as frentes. Enfrentando os impactos e buscando diminuir os efeitos negativos que atingem a todos.

No Instituto Federal de Santa Catarina, IFSC, quando suspendemos as atividades presenciais, a decisão de não suspender calendário foi tomada para manter a conexão com os estudantes. Foi difícil e controversa, porém garantiu que começássemos a aprender nesse novo cenário. Dos institutos federais, somente oito tomaram essa decisão, mas hoje praticamente todos estão em aulas e atividades não presenciais. Claro que cada instituição tem seu contexto para analisar e decidir mas para nós foi importante,  garantir minimamente formas de articulação com os estudantes. Começamos a buscar maneiras de disponibilizar acesso à internet para alunos que não tinham condições satisfatórias, oferecendo bolsa para compra de pacote de dados. Começamos campanha de doação de lap top, computadores e celulares. Fizemos pesquisas entre alunos e professores, buscando melhorar as condições para todos. A ampla maioria dos estudantes manifestou-se pela continuidade das aulas de forma não presencial. Sabemos que isso acarreta prejuízos ao ensino e a aprendizagem, mas nesse contexto, consideramos que é o melhor que podemos fazer. Como disse, lá no início do isolamento,  podemos fazer isso ou fazer nada! Nossos docentes foram se reinventando e trocando experiências, buscando aprender rapidamente num cenário novo e inusitado.

Na parte administrativa estamos aprendendo também a atuar e interagir remotamente para que a instituição não pare e continue avançando. As decisões e escolhas foram tomadas pensando nos estudantes e, em como não prejudicá-los num contexto de isolamento e stress natural desse momento. Temos aprendido de forma abrupta com essa situação.

Não nos preparamos  para enfrentar essa pandemia, mas as experiências anteriores foram importantes para que as escolhas do hoje fossem viáveis. Apostamos fortemente na educação a distância,  nos últimos anos, institucionalizando por meio de um centro de referência e instigando professores a se capacitarem e a proporem cursos, como também a utilizarem o percentual de educação a distância nos cursos presenciais. Claro que enfrentamos resistências em relação a essa implantação, mas hoje temos uma estrutura capaz de dar suporte às atividades remotas, isso tem sido fundamental para que possamos ter aproveitamento acadêmico e seguir na formação de excelência. Implantamos um sistema acadêmico capaz de abarcar os registros e a disponibilizar as atividades, que dá suporte e viabiliza as aulas remotas.

As mudanças sempre sofrem resistências e não seria diferente nesse momento, mas ao invés de nos acomodarmos fomos a busca de soluções pois as instituições públicas tem um compromisso social fundamental para a transformação da sociedade. Em alguns campi  paramos, para nos reinventar de modo que a comunidade interna e externa também compreendesse e nos ajudasse nas decisões. Temos avanços e alguns retrocessos, como em qualquer mudança! Mas seguimos!

Então, o que podemos esperar para o pós pandemia?  Instituições mais fortes, mais solidárias, buscando e propondo inovações e mudanças. As atividades remotas também podem ser melhor utilizadas quando do retorno às atividades presenciais. Também estamos percebendo que o trabalho remoto pode e deve ser utilizado mais largamente pois vimos que a produtividade em muitas atividades pode até ser maior, sem contar o tempo que se perde no trânsito. Melhorar a qualidade de vida no trabalho, com menos stress e mais liberdade. Assim como temos muitos alunos trabalhadores que, após a jornada diária do trabalho em fábricas e empresas, enfrentavam os coletivos por horas para estudarem quatro horas ainda. Essa situação pode ser melhor equacionada com a presença física para atividades imprescindíveis à sua formação, como as aulas práticas, por exemplo é a necessária integração dos estudantes com a escola. Percebemos que muitas aulas maçantes e cansativas podem ser desafiadoras e instigantes. Podemos melhorar e flexibilizar currículos, hoje tão engessados e, em muitos casos, descolados da aplicabilidade e da realidade, penso ser o momento de repensarmos e avançarmos com inovação e diversidade curricular, inclusive a necessária mudança na legislação, relativa às diretrizes curriculares dos cursos superiores. Temos meios tecnológicos e capacidade para transformar verdadeiramente os cursos e as salas de aulas. Acredito e quero muito que esse momento tenso e complexo seja transformador para as pessoas e as instituições, com crescimento, inovação, solidariedade e compaixão. Quando  a dor dessa pandemia passar, teremos que ser melhores, com certeza!

*Maria Clara Kaschny Schneider: Professora titular do Instituto Federal de Santa Catarina IFSC. Licenciada em Matemática com Mestrado e Doutorado em Engenharia de Produção, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (2006-2011) e Reitora do IFSC (2011-04/2020). Atua nas áreas de Gestão Pública, Internacionalização, Educação a Distância, Inovação e Formação de formadores e gestores.

Este artigo é de responsabilidade da autora e não reflete necessariamente a visão do INPEAU